quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Desamor. (em forma de pseudo-crônica)

E dizia aquilo assim, como quem anuncia que vai até a varanda fumar um cigarro ou comprar pães franceses na padaria da esquina. Mas não ia. Deixava os pães pra nunca mais e o cigarro pra depois. Um depois que não se sabia quando, se é que chegaria. Apesar de todos os medos do mundo e de suas sombras e luzes perfeitas, partia. Silenciosamente, no início. Em seguida, dava pequenos sinais de suas intenções, ainda obscuras para ele mesmo. Talvez se enganasse. Mais tarde, cônscio de si e de seus futuros passos vãos, prostrado em sua inabilidade, falava sobre tudo com uma naturalidade truncada. Não sabia como fazê-lo, então sem ensaios, fazia, dizia, ainda que gaguejasse e mais ninguém pudesse levá-lo a sério. Percebendo seus fracassos em tentar comunicar o indizível, já não ansiava por despedidas e últimos suspiros. Apenas anunciava, com indiferença, seus planos. Ignorantes e alheios, os demais olhavam para ele mais como quem olha para si e nada vê do mundo de fora, cegos que estavam na suas próprias desesperanças.
Ainda naquela época, antes de todos os prés e antes que antecederam a história tal qual ela é e foi, ele se via de costas, partindo em uma direção qualquer mas sempre oposta. Não imaginava tanta bagagem, tanto adeus, tantos pedidos de desculpas. Tanto desamor. 


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