segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Arca de rimas perdidas.

Parte 1 (18.12.2008)
Tenho me colocado a pensar sobre despedidas e todas essas cenas em que atuamos cedo ou tarde. Obviamente estou nostálgica, e quase chorosa. Ao contrário do que possa parecer, nem sempre estou apta a dizer adeus, mesmo que não seja prematuramente, ou que seja. Nem sempre é fácil calar o sangue, as emoções e deixar a mente e toda a possível sensatez predominar. Não foram raros os casos em que me envolvi e que depois me exigiram um adeus, sereno algumas vezes, precipitado e apressado, noutras. Na verdade, coloquemos o verbo ‘exigiram’ no presente, porque é a isso que me refiro e é a isso que me dôo. De doer mesmo, mais do que de doar, se é que consigo expressar-me. Não sou muito de demonstrar sentimentos e de externar lágrimas, digam que luto contra minha natureza feminina, ou até humana, mas não é isso; é quase natural. Não me nego, não renego, não renuncio, mas estes são os fatos e os sentimentos por trás dos fatos.
Não me orgulho das minhas insensibilidades ou das minhas inabilidades sentimentais, pelo contrário. Escrevo agora, talvez, na intenção de redimir-me um pouco, buscando mais afeto nas minhas palavras e nas minhas futuras tentativas. É claro que choro, pequena e desafetuosa, você ou um comum qualquer diria (julgaria?), mas choro. Ainda agora tinha lágrimas de saudade nos olhos. Lágrimas de devaneios, de pré-nostalgias, de quase despedidas.
Grande defeito meu, ficar antecipando as partidas, os adeuses e o que mais estiver por vir. Não é que doa-me antes, mas fico a remoer antes mesmo dos fatos serem fatos, consumados. Talvez sim, sofra antecipadamente, mas não sempre. Sou mais dramática e dissimulada do que sofredora, confesso.
Fico a relembrar os bons momentos, como se já estivessem distantes e me dou o direito de sentir saudade. “Como se tivesse do que sentir saudade, tão infantil”, pensas, talvez. E o que mais merece esse sentimento do que a infância? A minha merece e o tem, como nenhum outro momento. Pouco sei do resto, e não me bastam as impressões ilusórias que capto no caminhar, tantas vezes errante. O resto está aí, acontecendo sem que precise me mover, mas isso seria estancar, des-prezar. E eu prezo o que passou, o que passa deixando cicatrizes, o que aprendi, o que construí. Construí? Pretensiosamente, sim, e nada demais. Mas sentirei falta e não nego as minhas lágrimas, futuras ou passadas, ou as que caem agora, as que se formam agora para daqui a instantes surpreenderem-me.

Parte 2 (29.12.08)
A realidade está no que aprendi, no conhecimento que nunca é em vão. Os meus devaneios mantenho aqui dentro, ou no máximo, cuspo em fragmentos. Não foi a primeira, não há de ser a última despedida, forçosa ou não, definitiva ou não. Aí é que eu me coloco a questionar as injustiças que me vêm. Tento e não sei se falho pela insignificância de minhas tentativas ou se pela minha própria. Não sei se sou pouco levada a sério ou se não me faço ouvir o suficiente. Não sei como consertar(-me).

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Displicência infantilóide.

Deixei para trás meus passos apressados. Não recuperei a candura. Nem mesmo sei se gostaria.
Abandonei as culpas cotidianas e quis não mais procurar as respostas que não me cabem. Aumentar minha confusão interna, que externo aos poucos, não deixando que a ordem prevaleça demais. É necessário uma pequena destruição vez em quando, um bocado de caos. Inevitável.
Há cada vez mais nostalgias surgindo, o tempo acumulando. Noto pequenas pedras no meio do caminho, sem metáforas, que se não irão atrapalhar, ainda não dizem a que vieram. Também eu não digo. Não me mostro e teimo em buscar o novo, quase nunca alcançável. (Talvez seja amante da utopia, secretamente.) Boto-me a não planejar, para que não esqueça de viver, mas pergunte-me se ainda assim vivo. Vivo? Não sei.
É bem verdade que cansei dos meus moldes, das minhas indagações já muito gastas e batidas, das reflexões que se não me esclarecem, também não transcendem e não agigantam. Não basta dar voltas em círculo, em ciclos, viciosos e pequenos. Buscar o real, o palpável e ainda assim plausível. Nem sei mais que buscar. Nem sei se quero, há quem diga que não leva a lugar nenhum, mas nem sempre os que se fazem ouvir são os que sabem realmente alguma coisa.
Não sei o que vai me marcar daqui em diante, o que vai fazer sentido e tampouco quais e quantas portas cruzarei. Parece discurso de "porralouquismo", mas não é essa a intenção; não há intenção (e mesmo assim consigo ser pretensiosa, que cretina). Talvez a quem me assista, pareça que martirizo-me muito e que falo mais do que deveria. Disse, dia desses, que não pretendo ser entendida por quem não me queira compreender e decifrar, e agora vejo o poder que há nessa máxima. Não apenas poder de afirmação, mas do que não se quer, do que se pode evitar. Basta estancar.
Interrogações demais e certezas de menos, ainda não cheguei ao ponto de aceitar qualquer coisa, culpas que não me pertencem, e a famigerada estabilidade. Esta eu faço questão de mandar para o raio que a parta. É claro que sou comum, que tenho ambições ignóbeis e que consigo ser dissimulada até demais. Infantil, correndo atrás de fantasmas, não para exorcizá-los, mas para que me contem algo de novo, que me tragam de volta as afirmações que já esqueci. Pretensiosa e irriquieta, eu sei, mas nada disso me traduz, satisfatoriamente. Não quero que haja tradução possível mesmo. Minha linguagem que nem eu mesma entendo e domino, ainda bem, em constante transformação. E por incrível que pareça, tenho esbarrado em tolices e tolos que me querem resumir a termos pequenos e sem significação. Querem resumir tudo à sua volta assim e fracassam brilhantemente; não olham para si. E depois pequena sou eu?