domingo, 22 de novembro de 2009

A tríade do não-pertencer.

Parte 1: a ausência.


Ausência de.
Antes, sentido.

Hoje, leveza. Sempre quis ter as razões não importa quanto pesassem. Pela primeira vez em decênios de minutos passados e desculpas inventadas sinto um peso muito maior do que o de todas as razões. Pensava que a leveza seria quase um sinônimo de felicidade, alegria, ou quaisquer desses sentimentos que só existem tempo suficiente para nos escapar pelos vãos das mãos. Pelas reentrâncias dos sentidos.
Mas o peso se foi do espaço(-tempo-vida-mundo) para cair sobre mim (ser involuntário, pequeno e sem opções de fuga), num único golpe, certeiro. Me deixando a ausência como forma de dor.


Parte 2: o engano.


O enganou me foi sutil, quase não o vi se transmutar em si mesmo depois de tantas tentativas de cegar-me.
Erroneamente tão sutil que não percebi os estragos a que me expunha. Sentia, mas não percebia, porque separei-me em tantas partes de mim mesma que as sensações (ilógicas, na maioria de suas maiorias) não se misturavam com as percepções, sempre racionais e frias, ainda que quando relacionadas ao ser que não pensa, não racionaliza e sequer (se) compreende.


Parte 3: o estrago.

Dessa vez os estragos deixaram de ser doces. Ou eu é que não sinto mais o doce das coisas doces porque preciso desesperadamente de um amargo que me faça acordar e sentir viva através da repulsa?
Não basta a repulsa das coisas abstratas, que quase não se pode medir. Dessa vez, a níveis tão catastróficos, é necessário a repulsa na pele, no cheiro, no tato. O doce com o meu doce se fazendo amargo, o cítrico se misturando à minha repulsa das coisas, o azedume alheio em meio à minha doçura (mal) dissimulada.