Questiono-me. Que é isso senão disfarçar a dor ou o vazio? Ambos? Minto o tempo todo e escondo-me atrás de artifícios acima de quaisquer suspeitas?
Engano-me. Estou mentindo agora. Enganando-me agora. E sempre.
Acho a mentira atrativa não é de hoje. Amor perigoso e platônico. Eu diria que é quase um sadomasoquismo.
Sigo adiante com a arte de dissimular a dor e ainda assim tirar proveito dela. Felicidades que não são minhas [clandestinas? Minhas desculpas, Clarice], de origens duvidosas. Às vezes penso que desaprendi a técnica de transformar tristezas arrebatadoras em singelos sorrisos quase doces. Coisas que se perdem pelo caminho, mas não desisto de reaprender. Quem sou eu sem a dissimulação? Quem seria sem tristezas e sorrisos? Não vou me justificar como produto de um meio hipócrita. Nem como incorruptível e intocável. Devo estar baixando minhas guardas, sinto-me mais vulnerável e procuro desculpas fingidas para mais mentiras, para correr pra qualquer esconderijo. Finjo que não é comigo.
Disfarço a ociosidade, minha inércia permanente e sem experimentação. Não há progresso. A chuva vai continuar caindo [por quanto tempo não se sabe...], há o cheiro da terra molhada, as folhas caídas, as pessoas anestesiadas que não desgrudam de seus celulares, as urgências superficiais, as saudades passageiras, os desconhecidos íntimos e familiares, os fantasmas de todos nós...
O que chamam de vida continuará existindo, as decepções permanecerão, as hipocrisias que condenamos e adoramos praticar, os abismos não desaparecerão e o caos continuará predominando, tão silenciosa e sorrateiramente como um doce veneno.
[Isso não parece ir contra as minhas teorias egocentristas e egocêntricas? Minha opinião sobre isso não mudou nem um centímetro]
Não perco as palavras que sempre quis dizer, pois de fato nunca as possui. Não há encaixe, não há acordo. Não por imutabilidades, não que contrariar o óbvio seja impossível. Nada disso. Apenas não há. Quem foi que proclamou que existe algo além do vazio?
Num outro lugar
Há 7 meses
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